A Primeira Luz do Sol Nascente Compassiva
- projetosolnascente
- 25 de nov.
- 2 min de leitura
Atualizado: 5 de dez.
Ela foi a primeira. A paciente número um. Quando chegou até nós, não parecia caber dentro do perfil do Projeto Sol Nascente Compassiva. Jovem, com diagnóstico precoce de câncer de mama — tudo indicava que a medicina curativa daria conta. Os exames no início, pareciam prometer tempo, esperança e futuro. Mas o tempo, com sua delicadeza impiedosa, foi revelando outro caminho. Os marcadores histoquímicos, os receptores hormonais, os olhares silenciosos entre os profissionais começaram a dizer o que o coração já sabia: o tratamento não seria fácil. E a cura, talvez, não viria.
Então acolhemos, porque a Sol Nascente Compassiva nasceu para estar junto. Estivemos juntos em dias de cuidado e de riso, em tardes de música e conversa, em um Natal cheio de abraços e cheiros de casa. A agente compassiva tornou-se quase da família — presença firme e terna que cuidava do corpo e também do invisível. Criou-se ali um laço de amor genuíno, feito de gestos simples: um banho, um sorriso, uma escuta.
A doença foi rápida e feroz. Logo, nos vimos diante da primeira paciente efetiva do projeto. Vieram os desafios: a dor difícil de controlar, o medo dos opióides, a ferida complexa, o odor, a inapetência, a exaustão dos filhos, a ansiedade de quem via a mãe — o pilar da casa — adoecer. Ela era mãe de muitos, alguns com necessidades especiais, provedora e fortaleza daquela família. E, em meio à dor, vimos nascer algo bonito: reconciliações, perdões, um amor coletivo que se espalhou entre irmãos, cunhadas, filhos e a nossa agente compassiva.
Quando a infecção tomou conta e a internação se fez necessária, caminhamos juntos pela incerteza. A hospitalização foi longa e solitária, marcada por isolamento e medo. Mas ela voltou para casa — seu desejo mais profundo. Voltou para respirar o ar do lar, ouvir os filhos, sentir o cheiro do café. Queria ficar. Só que a casa, a estrutura, o corpo… nada mais sustentava o cuidado sozinha. Uma nova internação se impôs — desta vez, em uma unidade de cuidados paliativos, onde o corpo foi aliviado e a alma, abraçada.
Ali, entre orações e lágrimas, ela se despediu. Partiu cercada pelos filhos mais velhos, envolta em amor, lembranças e perdão. Falou dos erros, dos acertos, das tentativas de ser melhor. E foi.
Mas a Sol Nascente não se pôs com ela. Pelo contrário — brilhou mais forte. Seus filhos hoje caminham conosco, cuidando de outros, levando adiante a semente do amor que ela nos deixou.
Obrigada, paciente número um. Por ter confiado, por ter ensinado. Por ter sido a primeira luz que fez o Sol Nascente Compassiva existir.

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